19/08/2025
O diretor Cao Hamburger iniciou mês passado as gravações de seu novo longa-metragem, Escola Sem Muros, que está sendo filmado durante julho e agosto em São Paulo. A movimentação nos bastidores marca o retorno de um dos nomes mais importantes do cinema brasileiro contemporâneo a um projeto de ficção de grande porte — quase vinte anos após ter levado o Brasil à shortlist do Oscar de Melhor Filme Internacional com O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias (2006).
O filme, que narra a história de um garoto deixado pelos pais na casa do avô durante o regime militar, é considerado um dos marcos da cinematografia nacional, integrando a lista dos 100 melhores filmes brasileiros segundo a Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Agora, com a recente volta ao catálogo da Netflix, a obra circula entre novos públicos, com sua narrativa sensível e potente sobre infância, memória e repressão política.
No novo longa, Cao Hamburger desloca sua lente da história nacional para o presente das periferias urbanas, propondo uma reinvenção do chamado “favela movie”. Julio Andrade vive o protagonista Braz, um educador que precisa enfrentar dilemas pessoais e institucionais para transformar uma escola pública marcada por estigmas em um espaço de reconstrução coletiva.
“Nosso filme ‘Escola Sem Muros’ quer subverter esse subgênero cinematográfico e combater estigmas e preconceitos, mas sem perder os recursos dos filmes de ação — usando o ritmo e o poder de engajamento desses filmes para construir nossa narrativa”, afirma o diretor.
“Acima de tudo, nossa história irá mostrar o poder que a educação pública tem de mudar realidades e destinos.”
Combinando drama social e elementos de suspense, o projeto aposta em um elenco misto: nomes consagrados do cinema e da televisão brasileira dividem cena com novos talentos descobertos na comunidade onde o filme está sendo rodado. A proposta é retratar de forma genuína os desafios e as potências de uma escola pública situada em uma região marcada por estigmas sociais.
“Escola Sem Muros é uma escola sem amarras, onde as pessoas são mais livres... Onde elas exercem a possibilidade de pensar, de opinar e ter a própria opinião. Isso é muito importante e transforma pessoas”
Segundo o próprio diretor, o filme é um projeto de forte envolvimento pessoal, fruto de uma pesquisa de oito anos desenvolvida em parceria com seu filho Tom Hamburger — que assinam o roteiro ao lado de Thayna Mantesso e Marcelo Gomes.
Com O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias, Cao mergulhou na delicadeza do olhar infantil para revelar os impactos de uma repressão histórica sobre a vida cotidiana. Já em Escola Sem Muros, ele mantém esse compromisso com a escuta e a sensibilidade — mas agora amplia sua lente para retratar a potência coletiva das periferias urbanas, seus conflitos e suas possibilidades de reinvenção. Em ambos os filmes, o que atravessa a tela é o desejo de contar histórias sobre pessoas reais em contextos difíceis, mas com potência de transformação, sem concessões ao sensacionalismo.
Essa busca por narrativas socialmente relevantes sempre esteve presente na obra do diretor. Cao Hamburger também é um dos criadores de Castelo Rá-Tim-Bum, programa infantil que se tornou um dos maiores fenômenos culturais da televisão brasileira nos anos 1990. Da fantasia educativa da infância à realidade crua das escolas públicas brasileiras, sua cinematografia reflete um profundo comprometimento com o olhar do outro, com a formação de pensamento crítico e com o impacto social da arte.